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sábado, 4 de setembro de 2010

Yeah..., I've had a hammer



O fato: depois de quase dois anos na vida sobre duas rodas, percebi que estava errado em minha primeira comparação entre as ferramentas de carro e de bicicletas. Fiz, num post anterior, uma lista bem grandinha de coisas que eu estava a carregar na mochila. Por meses levei esse peso extra nas costas. Isso passou a me incomodar tanto, que o benefício de ter essas ferramentas sempre à mão passou a ser insignificante diante do trabalho de tê-las comigo, principalmente porque ao longo desses quase dois anos eu praticamente não usei nenhuma delas. Segue uma a uma, as razões que me fizeram deixar de levar cada uma das ferramentas em minha mochila:

 - Chave de corrente: não usei nem sequer uma vez no período, e nem passei por situações que me fizessem pensar que pudesse vir a precisar de usá-la. 
 - Cãmara de ar sobressalente: Resende não é exatamente uma cidade grande, então, em qualquer lugar que eu venha passar sufoco por causa de um pneu furado, certamente é um lugar próximo de uma bicicletaria. Meus pneus furaram, cada um, duas vezes durante esse período e sempre, por estar perto ou não muito longe de uma bicicletaria, achei que era mais fácil pedir o concerto do pneu, gastando R$3,00, do que sujar as mãos e possivelmente a roupa de graxa e de sujeira do pneu, além de atravancar a calçada.
 - Bomba de ar manual: os pneus da bicicleta  não ficam vazios com facilidade. No final das contas, a única finalidade da bomba de ar é encher um pneu furado. Como acho mais fácil concertar o pneu na bicicletaria, eles os enchem lá para mim, e a bomba se torna inútil.
 - Chaveiro Allen: a idéia era poder regular os freios e marchas a qualquer momento. Bobagem. Não vale a pena carregar o peso do chaveiro só pra isso. As marchas e freios não ficam tão desregulados que não se possa esperar chegar em casa para fazer os reparos.
 - Paletas para troca de câmara: o motivo para deixar de carregá-las são os mesmos que me levaram a deixar de levar a bomba e a câmara sobressalente.
 - Chaves phillips e de fenda: não cheguei a precisar delas em nenhum momento também. No entanto, elas são parte do meu canivete suíço, e esse eu uso praticamente todo o dia, em diversas atividades não relacionadas à bicicleta, e este eu mantenho na minha mochila sempre.
 - Chaves de boca: seguem os mesmos motivos da bomba de ar, das paletas e da câmara de ar.

Além disso tudo, eu possuo uma bicicleta dobrável. Se me acontece alguma coisa com a bicicleta, eu a dobro, ponho num ônibus e levo para casa ou para a bicicletaria mais próxima, e faço ou peço o concerto. 

Os únicos ítens dos quais não me desfiz foram o poncho, para me proteger da chuva, e o velcro para prender a bicicleta dobrada. O primeiro realmente se mostrou muito útil, protegendo a mim e à minha mochila do excesso de água e da sujeira. O segundo é indispensável quando se transporta a bicicleta num ônibus ou carro, para evitar que ela fique batendo nas coisas. Obs: essas bicicletas dobráveis bem podiam vir com essa facilidade, não?

Também deixei de usar o capacete. A princípio acreditava que um cara maduro como eu deveria deixar de lado aquela coisa da vergoinha de ser uma das raras pessoas da cidade que andam de bicicleta usando capacete. No entanto, a longo prazo, o capacete se mostrou um verdadeiro estorvo:

 1) O capacete despenteia meu cabelo. Não é uma simples questão de estética, de não gostar de andar com o cabelo despenteado. O fato de andar arrumado ou desarrumado faz toda a diferença nas suas relações interpessoais. Experimente ir de "roupas de ficar em casa" e cabelo despenteado numa loja de eletrônicos, e depois faça isso com uma roupa legal e o cabelo bem penteado. Você irá perceber que o atendimento que recebe é bem diferente. Dei o exemplo comercial, mas vale para tudo. Vejo que minhas chances diminuem sensivelmente quando tento xavecar uma garota estando com meu cabelo despenteado.
 2) O capacete inutiliza uma das minhas mãos ao caminhar. Para evitar ficar com o cabelo muito marcado pelo uso do capacete, eu retirava ele da cabeça a cada parada, para repentear o cabelo, e passava a carregá-lo em uma das mãos. Isso inutilizava uma das minhas mãos sempre que eu precisava carregar compras, ou utilizar as duas mãos em uma tarefa simples, como antender ao celular e chupar um picolé ao mesmo tempo.
 3) No cursinho não havia um lugar cômodo para deixar o capacete, e como é grande, não cabia dentro da minha mochila. Assim, eu acabava deixando ele embaixo de uma carteira, onde as pessoas eventualmente colocavam o pé sobre ele, ou no chão. Não gostava disso e comecei a me irritar com o capacete.
 4) Depois de quase dois anos eu não caí nenhuma vez de bicicleta - na verdade, eu nunca caí de bicicleta na cidade - e nem passei por nenhuma situação na qual pensei que o capacete seria útil. Com isso pesquisei um pouco sobre estatísticas de acidentes da internet. Descobri que a maior parte dos acidentes com bicicletas no trânsito não causa maiores prejuízos aos ciclistas. Os humanos têm por reflexo, proteger a cabeça nas quedas, e os pouquíssimos danos causados aos capacetes revelavam que a falta deles não faria qualquer diferença nos machucados do ciclista. O restante dos acidentes, que causam mais danos ao ciclista, são geralmente fatais: não causam quebras de braços, pernas, traumatismos, escoriações mil; causam a morte de uma vez, mesmo usando o capacete. Ou seja, o capacete não faz diferença num acidente simples nem num mais complexo. Ou você rala o joelho, ou morre. 
 5) Estudando um pouco mais essas estatísticas, descobri um estudo que mostrava que os carros passam mais distantes de uma pessoa sem capacete do que de uma pessoa com capacete. A pesquisa mostrava que os motoristas tendem a se comover com o fato de você estar sem capacete, considerando você uma coisa desprotegida, e ultrapassar dando maior distância. Por outro lado, por ver um ciclista de capacete, o motorista o considera livre de riscos e acha que pode "tirar uma fina" sem maiores problemas. O que torna então, o capacete um item de risco, ao invés de um item de segurança.
 6) Por fim, andei assistindo a uns vídeos na internet, de países como a Alemanha e a Suíça, famosos por terem a bicicleta como um meio de transporte respeitado, valorizado e bastante difundido em suas sociedades. Pude perceber nesses vídeos, que mostram o dia-a-dia dos cidadãos desses países, que quase ninguém nos vídeos usava capacete. Poxa, se as pessoas que moram num país que tem experiência de mais de 50 anos no uso da bicicleta, na Europa, onde as pessoas são cheias de "dedos" com segurança, não usam capacete, por que eu vou usar? Isso arrematou minha decisão.

Não estou dizendo que o capacete não deva ser usado. Esse é meu pensamento. Pesquise, assista, pense, e elabora você também sua conclusão. Também não estou afirmando que todos os demais equipamentos acima são desnecessários. Eles só são desnecessários na minha atual situação. Numa cidade como São Paulo ou BH, onde não é tão fácil de se encontrar uma bicicletaria nos centros das cidades, o fato de ter equipamentos à mão pode ajudar e muito.

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